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quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

(Agência Estado) Qua, 02 Jan - 16h30

Tecnologia para ensinar

Por Alexandre Matias

"Como todo pai, jogo com meus filhos. Confesso que jogava mais quando eles eram menores - Mario Bros., Zelda. Mas o que percebo é a completa entrega deles aos jogos eletrônicos. É fútil e inútil, nos dias de hoje, achar que temos de tirar os computadores das crianças. O que deve ser feito é transformá-los em nossos amigos, dentro e fora da sala de aula."

Todo pai que vê os filhos de controle na mão e olhos vidrados na TV já passou por essa situação que o físico, astrônomo e professor brasileiro Marcelo Gleiser expõe. E é exatamente isso: tentar tirar os games da vida das crianças é tarefa inglória e frustrante - e, principalmente, não vai fazê-las pararem de jogar videogame.

Daí a conclusão, que já deve ter passado pela cabeça de muito pai, de que o game talvez seja uma mídia para ser desenvolvida para outros propósitos, não apenas para diversão. Gleiser dá aulas no Darthmouth College, importante universidade situada em Hanover (EUA), e é a grife por trás do recém-lançado game Operação Cosmos, parceria entre a produtora Redalgo e o estúdio Overplay.

"Foi dessa percepção de que computadores têm de se tornar aliados pedagógicos e não inimigos da educação que surgiu a idéia de desenvolvermos um game educacional", explica.

"Operação Cosmos nasceu quando minha amiga Silvana Nuti me contatou com a idéia de usarmos computadores na educação. Conversamos entre nós, com outras pessoas e também com crianças que são craques em videogames e resolvemos que um jogo emocionante explorando o universo poderia dar certo."

Mas não se assuste com a idéia de um físico desenvolvendo um jogo eletrônico sobre o universo. Afinal, Gleiser é também especialista em astronomia e cosmologia e chegou a participar de cruzeiros com caçadores de eclipses - já foi a lugares remotos como Madagascar e Zanzibar, na África, ou o Mar Negro.

POPULAR

Também tem realizado um importante trabalho de divulgação científica no Brasil, em colunas de jornal, programas de TV e livros como o best-seller "A Dança do Universo" (1997). É conhecido por divulgar a ciência em linguagem acessível às pessoas comuns. Em Dartmouth, leciona um curso intitulado "Física para os Poetas", dirigido a estudantes de outras áreas.

"A história tinha de ser épica, o jogador deveria poder salvar o mundo, mas só se respondesse a certos desafios científicos. Só a ciência poderia ser usada como arma", explica. "Nosso objetivo era criar um game que jovens de 9 a 15 anos - em níveis de jogo diferenciados - achassem tão legal que nem perceberiam que estariam aprendendo física, química e astronomia enquanto se divertissem."

O conteúdo pedagógico foi adequado ao currículo escolar e, com isso, Gleiser espera ter criado uma ferramenta que espera ser "revolucionária no ensino da ciência". "Com apoio paralelo aos professores, que está previsto no projeto, podemos também prepará-los melhor (para o uso da tecnologia), algo que, no ensino público principalmente, é um sério problema", continua.

Mas a vida digital de Marcelo Gleiser vai bem além de Operação Cosmos. "Minha pesquisa científica depende muito de computadores de grande porte. Tenho uma bolsa de pesquisa que me dá acesso a supercomputadores paralelos, daqueles que têm mais de 5 mil processadores. Eles me permitem simular sistemas complexos que seriam impossíveis de serem estudados só com papel e lápis, como era o caso antes dos anos 70, por exemplo. Os computadores mudaram radicalmente a pesquisa científica. Em física, por exemplo, existe uma nova especialidade, a física computacional."

A internet também é uma importante ferramenta acadêmica: "Se preciso obter um artigo publicado num jornal especializado, quero entrar num site em que cientistas discutam questões de natureza fundamental ou sites de órgãos de pesquisa, como a NASA ou a National Science Foundation, a internet é indispensável na vida de um cientista", diz.

Ele usa a internet em seus cursos para visitar sites relevantes e alertar aos alunos sobre sites que devem evitar. No dia-a-dia, toma cuidado para não ser distraído pela tecnologia. De manhã bem cedo, não abre e-mails. "O ato de escrever requer, ao menos para mim, um foco total. Como meu período mais produtivo é logo cedo, deixo e-mail para depois do almoço."

Gleiser não usa MSN, Orkut e raramente o Skype: "Não tenho blog, nem fotolog, por completa e total falta de tempo. Mas sempre que solicitado participo de grupos de discussão em sites e blogs diversos", diz.

BOXE

BOAS IDÉIAS

A primeira impressão que se tem ao jogar Operação Cosmos: A Ameaça da Gigante Vermelha, lançado em português, é ótima. Em um cenário virtual futurista, o físico brasileiro Marcelo Gleiser, devidamente paramentado, saúda o jogador e fala um pouco sobre a aventura que vai se desenrolar.

Pena que o jogo como um todo tenha tão pouco em comum com a abertura caprichada. Os gráficos são estranhos, com uma direção de arte confusa.

O principal porém fica por conta da mecânica do jogo, que não acompanha o requinte científico do seu conteúdo. O game acabou não valorizando a sofisticação do roteiro ou os momentos educacionais que o permeiam, que de tão superiores ao resultado final, nem parecem pertencer ao jogo.

Como ferramenta de apoio educacional, o game é ótimo. Conceitos como gravidade e estrutura do sistema solar são muito bem explicados. Mas a parte jogável se parece com lição de casa. (Texto: Jocelyn Auricchio)

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